Contrato para desenvolvimento de agentes de IA: cláusulas indispensáveis
- Henrique Cardoso

- 17 de mai.
- 7 min de leitura

A inteligência artificial (IA) já está transformando a forma como as empresas operam, seja por meio de chatbots no atendimento ao cliente, automações de processos internos ou análise preditiva de dados. No entanto, à medida que essa tecnologia se torna mais comum, cresce também o número de empresas que implementam soluções de IA sem a devida proteção contratual — o que representa um grande problema, além dos riscos, é claro.
Sem um contrato bem estruturado, o aproveitamento da nova tecnologia, que parecia ser uma inovação, pode se tornar um verdadeiro transtorno: custos não previstos, falhas operacionais, dependência do fornecedor e até mesmo a possibilidade de perda da tecnologia desenvolvida.
Portanto, se você está pensando em contratar serviços voltados ao desenvolvimento de IA para o seu negócio, este artigo vai mostrar quais os pontos principais que o contrato de prestação de serviços deve prever para proteger sua empresa e garantir a devida segurança jurídica.
Etapas do projeto: do desenvolvimento à operação
O desenvolvimento de um agente de IA em um ambiente empresarial exige um contrato bem estruturado, que cubra todas as fases do projeto. As três etapas principais a serem consideradas são: desenvolvimento, implementação e suporte. Cada uma delas envolve aspectos técnicos, operacionais e jurídicos que devem estar claramente descritos no acordo para evitar ambiguidades e garantir o correto desenvolvimento do projeto.
Na fase de desenvolvimento, o contrato deve definir com precisão o que será desenvolvido, incluindo o tipo de agente de IA (por exemplo, chatbot, assistente virtual ou agente de recomendação), seus objetivos e o escopo funcional. Do mesmo modo, é fundamental descrever quais funcionalidades são esperadas, os critérios de aceitação e os métodos de teste.
A etapa de implementação envolve a integração do agente de IA aos sistemas da empresa. O contrato precisa detalhar como essa integração será feita, quais sistemas internos estarão envolvidos (como CRM, ERP, banco de dados ou plataformas de atendimento) e quem será responsável por fornecer os acessos técnicos necessários. O contrato deve estabelecer, ainda, se o fornecedor da solução de IA será o responsável direto por realizar a integração ou se prestará apenas suporte técnico, cabendo à equipe interna da empresa executá-la.
Já na etapa de suporte, o contrato deve indicar quem ficará responsável pela infraestrutura tecnológica necessária para o funcionamento contínuo do agente de IA após a entrega, incluindo a definição do ambiente de hospedagem (serviços do fornecedor, da própria empresa ou de terceiros) e quem arcará com os custos associados. Também deverá ser incluído um plano de manutenção e suporte, com prazos de resposta, níveis mínimos de disponibilidade (SLA) e formas de atendimento em caso de falhas, além da responsabilidade por eventuais atualizações.
Cláusulas indispensáveis no contrato de desenvolvimento de agentes de IA

Ciente das etapas que compõem um projeto de desenvolvimento e implementação de um agente de inteligência artificial, vamos agora entender quais são as principais situações que precisam ser reguladas e não podem faltar no contrato, elas são:
Tipo de contratação: entrega única ou serviço recorrente?
Antes de contratar um serviço de inteligência artificial, é necessário definir qual será o modelo de prestação adotado: entrega única (projeto fechado) ou serviço recorrente (modelo contínuo, como SaaS). Essa escolha influencia diretamente o nível de suporte recebido, o custo da operação e a autonomia da empresa em relação à tecnologia.
No modelo de entrega única, o fornecedor desenvolve e entrega o agente de IA pronto para uso, ficando a cargo da empresa contratante toda a gestão posterior — desde atualizações até correções técnicas e ajustes operacionais. É uma opção que pode parecer mais econômica a curto prazo, mas que exige estrutura interna para manutenção e eventuais atualizações do sistema. Além disso, qualquer necessidade futura de suporte pode gerar novos custos, já que o contrato original se encerra com a entrega do produto.
Já no modelo de serviço recorrente, geralmente oferecido sob a forma de assinatura (como no formato SaaS), o fornecedor permanece responsável pela operação do agente de IA. Isso inclui monitoramento contínuo, correções, atualizações e suporte técnico.
Finalidade e complexidade do agente de IA
Após determinar qual o tipo de contratação adotar, o contrato precisará refletir com precisão a finalidade e o nível de complexidade da solução a ser implementada, uma vez que tal complexidade influencia diretamente na infraestrutura necessária, o suporte envolvido, os custos e até mesmo eventuais riscos regulatórios.
É preciso saber que um agente de IA pode ter finalidades diversas, desde tarefas simples, como responder perguntas frequentes em um canal de atendimento, até operações complexas, como automatizar processos internos ou tomar decisões estratégicas com base em grandes volumes de dados. Assim, quanto maior a complexidade, maior será a necessidade de personalização, testes, integração com sistemas da empresa e suporte especializado.
Por esse motivo, o contrato deve conter cláusulas que possam detalhar qual será a função principal do agente de IA e quais os resultados esperados com sua atuação. Se a solução for voltada ao atendimento ao cliente, por exemplo, o foco será a eficiência na comunicação e a integração com canais como chat, e-mail ou redes sociais. Já para agentes que atuam em processos internos, será necessário prever a compatibilidade com sistemas corporativos e eventuais adequações técnicas durante a implantação.
Infraestrutura da Tecnologia

A definição de onde a tecnologia será hospedada e quem terá controle sobre ela sem dúvidas é um dos pontos relevantes no contrato. Muitas empresas, na empolgação de adotar soluções inovadoras, deixam esse aspecto de lado e acabam se tornando reféns do fornecedor — sem acesso pleno ao agente de IA, aos dados utilizados e, em alguns casos, nem mesmo ao histórico de interações.
Por isso, é fundamental que o contrato conte com cláusulas que estabeleça, de forma clara, qual será a infraestrutura utilizada. A tecnologia será hospedada nos servidores da própria empresa contratante ou em servidores mantidos pelo fornecedor? Essa decisão impacta diretamente a autonomia da empresa em relação à IA, bem como os custos e a segurança dos dados. Se a hospedagem ocorrer na infraestrutura do cliente, será necessário prever cláusulas sobre suporte técnico, manutenção e compatibilidade com os sistemas já existentes.
Caso a hospedagem fique a cargo do fornecedor, o contrato deve informar se será utilizada uma plataforma própria ou terceirizada (como serviços em nuvem). Nessa hipótese, é importante esclarecer quem arcará com os custos de hospedagem, se haverá taxas adicionais e como esses valores serão cobrados.
Previsão de Custos
A falta de clareza quanto aos custos envolvidos é, com certeza, um dos erros mais comuns na contratação de agentes de IA. Muitos contratos apresentam valores aparentemente atrativos no início, mas omitem encargos adicionais que surgem ao longo do tempo. Desta forma, para evitar surpresas e garantir previsibilidade financeira, é fundamental que o contrato detalhe todos os custos relacionados ao serviço.
O primeiro ponto é a definição do custo de desenvolvimento, que pode ser apresentado como valor fixo ou dividido por etapas (por exemplo: análise, criação, testes e entrega). Em seguida, é importante verificar se a implementação técnica – como integração com sistemas internos da empresa – está incluída nesse valor ou será cobrada separadamente.
Outro elemento relevante é o custo de hospedagem. Se a IA for operada em servidores do fornecedor ou em plataformas terceirizadas (como serviços em nuvem), o contrato deve indicar claramente quem será responsável por esses pagamentos – e se haverá reajustes ou cobranças adicionais no futuro. Da mesma forma, é preciso prever quanto será cobrado pelo suporte e pela manutenção contínua, e quais serviços estão inclusos nessas taxas.
Logo, o contrato deve conter uma cláusula específica para custos extras ou serviços fora do escopo acordado. Por exemplo, adaptações solicitadas após a entrega, aumento do volume de dados processados, novas integrações ou funcionalidades adicionais devem ter regras claras sobre como serão orçadas e cobradas.
Suporte e manutenção
Diferentemente de um software tradicional entregue em versão final, um agente de inteligência artificial exige acompanhamento técnico contínuo. Após a implementação, é comum que o sistema precise de ajustes finos, correções de falhas, atualizações e otimizações conforme ele interage com os dados e processos da empresa. Por isso, é necessário que o contrato preveja um plano claro de suporte e manutenção.
O primeiro ponto a ser definido é qual será o período de suporte incluído após a entrega. Em geral, os primeiros meses são os mais críticos, pois é nesse momento que surgem adaptações e necessidades específicas do uso prático. O contrato deve indicar se esse suporte inicial está incluso no valor do projeto ou se será cobrado à parte, e qual a sua abrangência.
Caso haja cobrança mensal ou periódica para suporte técnico, o contrato precisa especificar quais serviços estarão incluídos nesse valor: atualizações de sistema, correções de bugs, monitoramento de desempenho, melhoria de performance, entre outros. Tal previsão evita surpresas e permite à empresa planejar financeiramente a manutenção do agente de IA.
E no caso de encerramento do contrato, como manter o agente?
Nesse caso, o contrato deve prever com clareza o que acontece com os dados, fluxos de operação e configurações do agente de IA após o encerramento da relação comercial. A empresa contratante terá acesso a esses elementos? Poderá utilizá-los com outro fornecedor? Ou precisará começar tudo do zero?
Para evitar esse tipo de problema, o contrato deve prever um plano de transição bem definido, com previsão expressa de que a empresa terá acesso aos dados gerados e à estrutura lógica desenvolvida, garantindo que, se desejar, possa migrar a operação para outro fornecedor ou ambiente próprio, sem perda das informações ou necessidade de reconstrução do agente do zero.
Conclusão: um contrato estratégico protege seu negócio e potencializa os resultados
Com este artigo, podemos observar que contratar o desenvolvimento de um agente de IA não é apenas adquirir e implementar uma tecnologia inovadora — é assumir um compromisso estratégico, com implicações técnicas, financeiras e, principalmente, jurídicas.
Portanto, antes de colocar em prática qualquer contrato, faça uma análise cuidadosa da situação. Certifique-se de que ele foi elaborado corretamente, que todas as etapas do projeto estão contempladas, que os custos são transparentes e que sua empresa terá controle sobre a tecnologia que está contratando.
Com um contrato bem estruturado, você reduz riscos, evita litígios e garante que a inteligência artificial traga apenas o que ela promete: eficiência, inovação e crescimento.
Ficou com alguma dúvida ou precisa de suporte jurídico especializado para implementar contratos de desenvolvimento de IA? Envie-nos uma mensagem.





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